O grito silenciado: presidentes de bairros denunciam abandono do prefeito que ajudaram a eleger
Em Santarém, uma crise silenciosa se desenvolve nos bastidores do poder municipal. Presidentes de bairros que foram fundamentais para a eleição do atual prefeito agora se sentem traídos e abandonados pela istração que ajudaram a construir. Os relatos revelam um padrão preocupante de promessas não cumpridas e desrespeito às lideranças comunitárias.
O discurso versus a realidade
“O prefeito em suas lives do Instagram e reuniões gerais com lideranças de bairro diz que os secretários têm liberdade para resolver as demandas das lideranças, mas quando vai para a secretaria, o secretário só pode fazer com a ordem do prefeito”, revela um dos presidentes. Esta contradição expõe a centralização excessiva do poder e a falta de autonomia real dos secretários municipais.
A frustração é evidente no relato de quem dedicou anos ao projeto político: “Fui candidato a vereador e sempre estive do lado do governo e principalmente do prefeito atual, mas infelizmente o prefeito não tem dado importância aos presidentes de bairro.”
A invisibilidade das lideranças
Um caso emblemático dessa negligência é a exclusão dos presidentes de bairros até mesmo das informações básicas sobre eventos municipais. “Eu sinceramente nem as mídias da programação do aniversário da cidade os presidentes estão recebendo. Outro dia eu pedi para uma assessora para receber a programação do bairro que eu represento”, desabafa uma liderança.
O tempo de espera para audiências com o prefeito tornou-se um indicador cruel da desvalorização dessas lideranças. O presidente da Prainha aguarda há três meses uma resposta para seu pedido de audiência, simbolizando o descaso generalizado com as demandas comunitárias.
Reuniões de fachada
As reuniões com presidentes de bairros transformaram-se em monólogos do prefeito, sem espaço real para diálogo. “No dia de reunião com os presidentes, não seja apenas reuniões de grupão, onde temos que ficar só ouvindo o prefeito falar, enquanto as lideranças não têm horário para um atendimento de demandas específicas e de promessas de campanha”, propõe uma liderança.
A sugestão é clara: substituir as “reuniões de grupão” por agendas individuais onde cada presidente possa apresentar suas demandas específicas sem interrupções ou atropelos de “outras reuniões já agendadas”.
O caso do posto de saúde: luta invisível, crédito visível
Talvez o relato mais contundente venha de uma presidente que dedicou meses à luta pela construção de um posto de saúde em seu bairro. “Eu lutei por esse posto, pela reforma, foram meses e meses com as secretarias de saúde, foram dias de lutas árduas, para agora todo mundo querer ser o criador deste posto?”
O presidente descreve sua rotina sacrificante: “Eu saía de manhã só chegava à noite em casa com as Agentes Comunitárias de Saúde, lutando, batendo de porta em porta.” Agora, quando o posto finalmente se tornou realidade, ela não recebe nem convites para acompanhar as visitas oficiais do prefeito ao local que ajudou a conquistar.
“Só vejo vídeo no Instagram do prefeito no posto de saúde, visitando, mas eu como representante do bairro não recebo convites para acompanhá-lo, só vejo autoridades e vereadores que nunca correram atrás desta luta como eu fiz”, lamenta.
O fantasma de Alexandre Von
A comparação com a gestão anterior é inevitável e preocupante. “Isso é ingratidão, essa falta de diálogo e tratamento com os presidentes de bairro, e todos vimos como o ex-prefeito Alexandre Von encerrou seu mandato após ficar quatro anos sem respeitar nem dialogar com as lideranças.”
O paralelo sugere que Santarém pode estar caminhando para repetir os erros do ado, ignorando as lideranças comunitárias que são a ponte vital entre o governo e a população.
Propostas ignoradas
Os presidentes não apenas criticam, mas apresentam soluções concretas:
- Agenda exclusiva para atendimento individual aos presidentes de bairro
- Calendário de visitas regulares aos bairros e comunidades
- Maior autonomia orçamentária para os secretários
- Inclusão efetiva das lideranças nos eventos e inaugurações
O preço da ingratidão política
O que emerge desses relatos é um retrato preocupante de uma istração que, após conquistar o poder com o apoio das bases, agora as trata como meros figurantes. A ingratidão política tem um preço alto: a perda de legitimidade e o distanciamento da população.
Em Santarém, o grito dos presidentes de bairros ecoa como um alerta. Se ignorado, pode se transformar no mesmo clamor que marcou o fim da gestão Alexandre Von. A história política local mostra que governos que desprezam suas bases comunitárias raramente conseguem sustentar-se no poder.
A pergunta que fica é: o atual prefeito aprenderá com os erros do ado ou repetirá o ciclo de abandono que caracterizou a gestão de Alexandre Von? As lideranças de bairros aguardam uma resposta – há três meses, no caso da Prainha.